Encontrei Natalie Goldberg pela primeira vez em minha leitura do livro “O Caminho do Artista”. Natalie prefacia a edição comemorativa dos 25 anos dessa obra transformadora de Julia Cameron, também conhecida como a “bíblia dos criativos”. O que eu viria a descobrir é que Natalie Goldberg, assim como Cameron, também tem sido uma referência àqueles que buscam desenvolver seu trabalho criativo por meio da escrita.
Nat Goldberg criou uma metodologia autoral em que une práticas características do Zen Budismo, caminho espiritual que ela segue há muitas décadas, à prática do desbloqueio e desenvolvimento da escrita criativa. Em seus retiros para escritores, ela propõe uma cadência de engajamento dos participantes num ciclo de atividades ritmadas – 20 minutos de meditação Zazen (sentar-se em silêncio), 20 minutos de caminhada Zazen (um caminhar vagaroso), seguido de 20 minutos de escrita livre, à mão, caneta no papel. Todas as atividades são feitas no mais absoluto silêncio.
Nat Goldberg considera o ato da escrita como um processo de limpeza da mente. Nossas mentes “macaquinho” como ela se refere (monkey mind) não param de pular de um pensamento a outro o tempo todo. Como encontrar dentro de si as palavras, textos e livros que querem ser escritos quando nossa mente está o tempo todo tão cheia de “lixo”? Nat nos responde: coloque caneta no papel, todos os dias. Faça um download diário do conteúdo de sua mente no papel. Faça isso por tempo bastante e com disciplina suficiente e você começará a alcançar o que ela chama de “pensamentos originais” (first thoughts), ideias que brotam do fundo da alma quando conseguimos limpar nossas mentes. Essa “escrita a priori”, como a chama a autora, torna-se então uma poderosa prática espiritual por meio da qual conseguimos garimpar nossos tesouros enterrados e transformá-los por meio da e em palavra escrita.
Essa prática diária é exatamente o que Julia Cameron considera como componente essencial de seu caminho do artista. Para ela, precisamos reservar tempo todas as manhãs para escrever 3 páginas sem parar. Fazer o “download” da sua mente na página. Cameron e Goldberg acreditam que essa prática cria passagem para os conteúdos criativos que estão em nosso inconsciente, escondidos, esperando serem ativados, acessados, e trazidos para o nosso mundo.
Os quatro princípios de Nat Goldberg para a prática da escrita são:
- Mantenha sua mão em movimento. Escreva sem parar por pelo tempo que você se propor a escrever. Não pare. Não volte para ler o que escreveu, não edite nem corrija. Apenas escreva. Sem. Parar.
- Sinta-se livre para escrever a pior porcaria. Você precisará revolver a sua mente para chegar nas jóias que lá estão escondidas. Para isso, você precisa aceitar todo o conteúdo de sua mente. Deixe sair e os coloque na página. Dessa forma, eles sairão do caminho para que as suas ideias originais possam passar para o papel.
- Seja específico. Descreva as coisas em detalhes. Não use palavras vagas, genéricas. Use seus adjetivos, advérbios. Diga como, em que cor, de que forma. Mas lembre-se do item 1: não pare de escrever.
- Abra mão do controle. Diga o que você quer dizer, e não o que você acha que você quer dizer, ou o que você pensa que os outros querem que você diga. Mire na jugular.
Apenas comece. E continue. Faça disso uma prática diária.
Leia:
- O Caminho do Artista (The Artist’s Way) de Julia Cameron
- Escrevendo com a Alma (Writing Down the Bones) de Natalie Goldberg

Uma resposta para “Escrever os ossos”
Muito bom! É tão difícil manter a disciplina de escrever assim como elas propõem!
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